Em 1904 o então Governador Alberto Maranhão solicitou ao fotógrafo Bruno Bougard o registro da Cidade do Natal, capital do Estado. As imagens captadas por suas lentes, do alto da torre da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, revelam uma cidade que timidamente começa a se modernizar, com aspirações de higienismo e embelezamento das ruas e edificações. Vamos discutir um pouco sobre Natal em 1904?
As aspirações de higienismo (salubridade) e embelezamento (estética) partiam principalmente das elites natalenses e tinham como foco superar a arquitetura colonial produzida até o momento, identificada pejorativamente como um símbolo de atraso, com ruas insalubres e irregulares em termos de forma e edificações de estética simplificada, sem ornamentos, sem recuos frontais e laterais em relação aos limites do lote e coberturas aparentes desaguando em vias públicas.
Na Cidade Alta, por exemplo, houve demolição de quadras inteiras para se atingir estes ideais de salubridade e aformoseamento. A figura a seguir ilustra algumas edificações coloniais que foram posteriormente demolidas para dar lugar ao pátio/jardim do atual prédio da Pinacoteca, que aparece ao fundo, e que já foi sede do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. A criação de jardins, alinhamentos de ruas e edificações, bem como a diminuição do “amontoamento” de casas são indícios desta cidade que inicia sua transformação.

Esta e as demais fotografias de Bruno Bougard (1904) ainda mostram alguns resquícios da cidade colonial, embora já fosse possível perceber pequenas transformações nesta filiação estilística, como a colocação de platibandas para esconder as coberturas e a presença de ornamentos nas edificações, ou seja, inovações de caráter eclético.
Na figura abaixo, a Casa de Câmara e Cadeia de Natal que foi concluída em 1770 e demolida em 1911 se destaca pela platibanda de influência da arquitetura holandesa. Na última figura, o que se destaca é o terreno livre que deu lugar posteriormente à Praça João Tibúrcio, de formato triangular, somado ao vazio do terreno que corresponde à atual Praça André de Albuquerque, cujo formato deve provavelmente remontar ao período de fundação da cidade, antes de se tornar praça.


Cíntia Camila Liberalino Viegas (12/05/2021)
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